O maracatu é uma dança folclórica popular em várias cidades do estado de Pernambuco. Nascida em meados do século 18, o ritmo possui origens afro-brasileiras e é muito popular no período do carnaval, em cidades como Recife e Olinda.
Vamos falar sobre os mais variados tipos de maracatu, qual a origem, quais os tipos existentes, seus personagens e quais instrumentos são usados no cortejo.
O que é maracatu?
O maracatu é um ritmo musical e dança, que faz parte do folclore brasileiro, com a principal característica de ser dançado em cortejo, ou procissão, que simboliza as antigas cortes africanas.
Não se sabe ao certo em que ano ele teria surgido, mas os primeiros registros datam do ano de 1711, na cidade do Recife.
O maracatu sofreu desde o início forte influência das religiões de origens africanas, principalmente o candomblé, possuindo até mesmo representações de alguns orixás durante o cortejo.
Ao longo do tempo, o ritmo também foi fortemente influenciado por elementos culturais dos povos indígenas e europeus, até chegar ao que conhecemos hoje.
Com o cortejo marcado pelo som forte dos instrumentos de percussão, o maracatu é um elemento marcante da época de carnaval.
Os criadores seriam os trabalhadores dos canaviais, que usam os elementos tradicionais do ritmo, aliado com outros personagens. Por exemplo, um dos mais famosos do estado possui vários dançarinos de frevo.
O maracatu é um ritmo alegre e colorido, que se mantém vivo até os dias de hoje, sendo inclusive, considerado um patrimônio imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Onde e quando surgiu o ritmo?
Não se sabe ao certo em que ano exatamente aconteceu o primeiro cortejo de maracatu nação. Já que alguns documentos que falavam sobre o evento de coroação dos Reis Negros datam do ano de 1674.
Contudo, o primeiro registro oficial do ritmo data do ano de 1711. Sendo assim, a única certeza é que ele nasceu no estado de Pernambuco, com os escravos que foram trazidos para o local.
A dança possui uma forte ligação com a coroação dos escravos, que eram chamados de reis negros, ou rei e rainha do Congo.
De acordo com registros históricos, essa prática servia para controlar as possíveis revoltas entre os escravos.
Para isso, duas pessoas eram colocadas como figuras de autoridade sobre os demais. Sendo assim, o maracatu foi criado para representar esse fato e relembrar os cortejos das cortes africanas.
Com o fim da escravatura, a manifestação cultural continuou viva como uma forma de relembrar esse período histórico. Com isso, começou a ser passada de geração para geração.
Como a origem do maracatu está ligada diretamente aos povos que foram trazidos como escravos, até hoje em dia os grupos mais tradicionais estão ligados a religiões de origem afro brasileira ou ameríndia, como por exemplo, a jurema sagrada e o candomblé.
A palavra maracatu era uma expressão para denominar uma “aglomeração de negros”. Quando começaram a sair no carnaval, esse nome era dado com uma conotação negativa ao cortejo.
Tipos de Maracatu
Inicialmente existia apenas um tipo de maracatu, o chamado de baque-virado, que é considerado o ritmo afro brasileiro mais antigo. O outro tipo, que possui a figura marcante do caboclo de lança, teria surgido apenas no final do século 19.
Ele é considerado o ritmo mais antigo, pois é o primeiro de que se tem registros que surgiu de influência de diversos povos que vieram para o Brasil.
Enquanto o maracatu nação surgiu diretamente do costume de coroação dos reis negros, o rural seria uma mistura de vários folguedos, que foram se misturando com o tempo.
De acordo com alguns pesquisadores, esse ritmo surgiu após a segunda guerra mundial, durante a crise que obrigou diversos trabalhadores do campo a seguirem para a capital do estado.
Com isso, houve uma mistura dos ritmos que foram trazidos de todas as regiões de Pernambuco, resultando no que conhecemos como maracatu rural, que possui a figura marcante e colorida do caboclo de lança.
Um terceiro tipo, menos conhecido que os anteriores, é o maracatu cearense. Esse ritmo musical é natural do estado do Ceará e teria surgido também em meados do século 19. No entanto, os registros confiáveis datam apenas da década de 50.
Esse tipo de maracatu apresenta algumas características próprias. Como o fato de todos os integrantes terem o rosto pintado de preto e apresentar um ritmo de percussão mais lento, por exemplo.
Contudo, as influências das religiões afro brasileiras e a tentativa de relembrar os cortejos reais ainda estão presentes, fazendo com que os maracatus sejam uma herança cultural viva de um povo.
Maracatu nação
Uma das principais características do maracatu nação, ou maracatu do baque virado, é que ele representa a coroação dos reis do Congo e o seu cortejo pelas ruas.
Por isso o grupo, que pode ter entre 30 e 50 pessoas, percorre as ruas cantando e dançando para celebrar os novos monarcas.
A procissão é acompanhada por músicos que tocam instrumentos exclusivamente de percussão. Tambores e ganzás, que é um tipo de chocalho são os mais comuns de serem vistos.
Acompanhando o cortejo vai um casal jovem, que representa o príncipe e a princesa, com cada um deles tendo uma dama de companhia e um vassalo.
Outros personagens marcantes são as figuras da corte e as yabás. Por fim, existem personagens chamadas de damas do paço. Elas são representadas por jovens mulheres que carregam e guiam as calungas.
Essas, que podem ser duas ou três, são bonecas que possuem um forte cunho religioso. Dizem que elas são as representações de reis e rainhas mortas, sendo respectivamente Dona Leopoldina, Dom luiz e Dona Emília.
As calungas também são uma forma de representar os orixás, que são as entidades africanas. Sendo elas Iansã, Xangô e Oxum.
Outra característica é que os títulos de rei e rainha são hereditários. Ou seja, passados de pai para filho durante gerações.
Cada um dos grupos de maracatu é chamado de nação. Sendo que a maioria das mais de 30 existentes apenas em Pernambuco são seculares, com a mais antiga tendo sido fundada no ano de 1800.
Maracatu rural
O maracatu rural, ou maracatu de baque solto, difere do tipo anterior em vários aspectos. O principal deles é a sua origem, que é tida como uma mistura de vários folguedos e brincadeiras de diversas partes do estado.
Boa parte dos personagens usados são os mesmos, como os reis, as pessoas da corte e as calungas. No entanto, no maracatu rural aparecem personagens que servem para alegrar o público, sendo as mais conhecidas a Catirina, Mateus e Catita.
Outra característica única desse ritmo é a presença do caboclo de lança. Eles são representados, quase sempre por homens, que usam roupas cobertas de lantejoulas e fitas coloridas.
Na mão, os caboclos levam uma lança de madeira de dois metros de comprimento, que é coberta com fitas de várias cores.
O rosto é geralmente pintado com um corante vermelho natural chamado de urucum, na boca é levado um cravo branco. As roupas, muitas vezes, são confeccionadas pelos próprios foliões e podem pesar até 30 quilos.
Esses personagens se dividem em duas fileiras e dançam de acordo com as ordens do mestre de cabocaria. Na maioria das vezes os caboclos de lança são agricultores, que desfilam apenas no carnaval.
Da mesma forma que o maracatu nação, aqui há uma forte influência religiosa, contudo ela está mais ligada a religiões com influência dos povos ameríndios, como a Jussara sagrada.
Esse ritmo também foi conhecido como maracatu orquestra ou de trombone, porque os músicos não usam instrumentos exclusivamente de percussão, mas também de sopro.
Principais personagens
Tanto o maracatu nação, quanto o rural possuem diversos personagens clássicos e indispensáveis. Os principais são as figuras do rei e da rainha, já que o cortejo é feito em comemoração a coroação dos dois.
No início, historiadores dizem que a figura dos monarcas não existia no maracatu rural. Ela teria sido aceita já na década de 90, por causa do contato com as nações, que é como são chamados os grupos tradicionais do estado.
Fora os monarcas, que comemoram a coroação, existem as figuras da corte. Elas podem ser príncipes, ministros e pessoas com títulos nobres.
Em seguida aparecem as damas da corte, elas são representadas por mulheres ricas e bem vestidas, mas que não possuem títulos de nobreza.
Outra personagem importante é a dama de paço, que é geralmente vista em dupla ou trio. Ela, que é geralmente uma mulher jovem, carrega a calunga, que é feita de madeira e representa um monarca morto ou orixá.
Por fim, todos os grupos de maracatu possuem a figura das yabás. Essas são mulheres, que representam baianas escravas e cantam as letras, guiando a cantoria do cortejo.
Logo depois vêm os batuqueiros, ou músicos, que ditam o ritmo de tudo e um porta estandarte. Sendo que estes carregam o símbolo daquela nação ou grupo, com o nome e ano em que ele foi fundado.
No maracatu rural, existem as chamadas figuras sujas. Elas são as que aparecem na frente do cortejo e chamam a atenção das pessoas ao redor para o evento que vai acontecer.
Além dos tradicionais caboclos de lança, que também são chamados de guerreiros de Ogum.
Instrumentos usados no Maracatu
No maracatu de baque virado, os batuqueiros tocam apenas instrumentos de percussão.
Os principais são as alfaias, que são espécies de bombos ou zabumbas e possuem um som bastante grave.
Eles eram feitos com troncos de macaíba, uma árvore parecida com uma palmeira e bastante comum em Pernambuco.
Os batuqueiros também levam os instrumentos de percussão, e o atabaque.
Além disso existe o gonguê, que é parecido com um sino (com um som mais grave) e o ganzá (um tipo de chocalho cilíndrico que produz o som mais agudo dos batuqueiros).
Já no maracatu de baque solto, fora os instrumentos de percussão, são usados vários instrumentos de sopro, cujos principais são: clarinetes, saxofones, trombones e cornetas.
O coro desse ritmo é composto exclusivamente por mulheres, em especial as yabás, que puxam o canto de todo o cortejo.
Músicas cantadas nos cortejos
Como ritmo musical, o maracatu possui diversas canções que são compostas pelas diversas nações existentes.
Conheça algumas que são cantadas por uma das nações mais tradicionais de Pernambuco, a Estrela Brilhante.
Clementina de Jesus No Morro da Conceição
Os tambores acariciam a noite
Sinhá Marivalda acordou
E o estandarte do Estrela chegou
Ôoo ôo ôoo
Bravos guerreiros que dançam com ira da dor
Luz nas escadarias do morro
O estandarte do Estrela chegou
Salve o rei, salve a rainhado.
Dança rainha
Dança a rainha, vassalo e escravo
Todos os lanceiros e a corte real
Toque o batuque no baque virado
Dama de paço escute o compasso
Vem meu rei, embaixador e princesa também
Catirina olha o baque zuando
É o Estrela que já vem chegando.